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quinta-feira, setembro 16, 2004

Nossa Senhora do Amparo 

Espreita entre a cortina branca
amarela do pó das horas sem gente a vivê-las
espreita do canto do olho das cataratas das catástrofes
o quintal meio à sombra meio
ao sol
está na hora
e depois do lanche reza o terço
para espantar a solidão

companhia benta sabe a torradas com leite
e ao quintal já mais á sombra
que ao sol

saudades do sino
quando ainda tinha badalo
e ressoava
chamava a gente pró dia pró Nosso Senhor e pra a Sua Mãe
a Virgem Maria Santíssima
ai, há muitos anos que não o ouço
já desde o tempo do Padre Américo

ai, Senhor
hoje dói-me tanto o crucifixo
Tu sabes que estive doente
e por isso não fui à procissão
quando muda o tempo os ossos
custam-me muito
estive quase tão mal como ali a Lurdinhas
do café

volta para dentro a velha
absolvida
e namora os retratos em cima do aparelho de televisão
o Nuno Miguel deve estar já um homem
e enganam-se as horas
na novela das molduras

chega o cansaço prematuro
de quem carrega de superstição o dia
para ser ninguém e poder conferir em contas
do rosário
da quarta classe
o poder que lhe vem do alto
e que carrega e satisfaz
para a noite ser inteira e sonolenta merecida

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